Oficina literária é um troço meio gozado. Sob todos os aspectos, se me entendem. Na linha a gente sofre, mas goza, pero também porque tem suas ‘entidades’ próprias, como uma boa terreira. Figuras nobres e apreciadas, como o Sr. Narrador, por exemplo.
Cada vez que o Fischer fala no ‘narrador de terceira’, eu complemento: categoria, porque, ao menos no meu caso, o que ocupa o lugar de narrador é uma espécie de aura que fica pairando no teto espiando o que seu outro faz embaixo. Algo assim como as viagens que uma amiga minha fazia pra fora do corpo e depois contava pra gente em meio ao maior fumacê, então até hoje não sei o que era fruto de delírio ou exercício de imaginação. No Bordel de Deus, porém, ele olha as coisas de fora, dá umas espiadelas por dentro, mas consegue ser mais viajandão que o próprio personagem, vale dizer: tô frita.
Quando o professor ainda atribui ao dito a qualidade de ‘onisciente’, bom, aí os butiás me caem dos bolsos. Porque, também no meu caso, o sacana é de uma ignorância aterradora. Ele não faz idéia que história está contando, qual seu propósito e, menos ainda, seu final. Pior: finais, porque se meteu em dupla enrascada, freira & jornalista. Precisava?
Tudo isso só podia resultar na maior confusão no capítulo 8. Judiei um bocado da freirinha, pequei pelo excesso e pelo sexo, de modo que retrabalhei o dito. Cortei a última cena de sacanagem com a hóstia, mas deixei a voz tonitruante e o resgate pela dupla de mulher pra toda obra. Quem sabe assim eles começam a viajar juntos e botam algum bom senso no enredo.
A questão é que começo cada capítulo apenas com uma ou duas imagens na cabeça. No da Provação foram: um baita corredor de veludo vermelho, lúbrico, tipo David Linch na veia mas sem os anões, e um palco com freiras lascivas - um dos hits no imaginário erótico – talvez porque o sexo mais represente a passagem para a vida adulta e o primeiro bastião caído é o da inocência, sei lá, isso é terreno da Maria Helena.
Resumindo: a Provação ficou ruim mesmo. Quando a oficina chegar ao fim pretendo dar um trato no conjunto, pra ver se salvo alguma coisa. E agora vou atrás da Recompensa, embora não a mereça.