Rodoviária
de Capão da Canoa, manhã de verão – um pouco antes do inicio da viagem faz-se
necessária uma passadinha no banheiro feminino, surpreendentemente limpo e
arejado, com ares de recente reforma. No cubículo, a surpresa ruim: cadê o
papel higiênico? A mulher da limpeza esclarece: papel e sabonete tem que pedir
no Setor de Despacho. Não resisto ao deboche: então me passa o formulário. Não
precisa de formulário, ela explica, é só ir na janelinha que fica lá no fim do
prédio e pedir o material no setor. Minha cara de maus bofes faz com que se
apresse: se não gostou, reclama pro DAER, eles é que vieram com essa. Ah tá. A
segunda alternativa é usar o banheiro do ônibus, que fica chaveado em viagens
inferiores a 3 horas, como ouviu do motorista a passageira que dele quis fazer
uso durante a viagem. A terceira alternativa, usar o da rodoviária da Capital
dos Gaúchos (quanto orgulho, oh!), demanda o pagamento de R$ 2,25 para se
usufruir de material de limpeza de última categoria, sob supervisão da mulher
que controla a roleta para que não haja abuso, sabe como é, quem não gostaria
de roubar uma lixa como aquela?Enfim, até no mais íntimo de nossas necessidades
há um burocrata ou administrador de olho no nosso rabo, achando que está
fazendo uma grande economia surrupiando ou suprimindo material essencial à
higiene (uma irmã minha defende a tese de que todo homem tem um genoma de porco
– até agora não encontrei desmentidos). Esse tipo de ordem burra, que prevalece
nos banheiros do país de ponta a ponta, presta um desserviço tremendo à saúde
pública, como tanto alertou Osvaldo Cruz, que pra esses ignaros deve ser
zagueiro do Mengo, algo assim. Então dou uma sugestão pra turma da imprensa que
pode estar me lendo: que tal botar o dedo nessa cumbuca e ver quem fatura com
essa porcaria toda? A quem serve? Entrevista os usuários e bota médico na
parada pra dizer o óbvio: as piores pestes vêm dos menores bichinhos, esses que
proliferam justamente porque não se lava as mãos, por exemplo. O efeito colateral
de uma investigação assim seria tão benéfico quanto: por algum tempo a bobajada
das matérias jornalísticas de verão teria alguma utilidade afora o uso obvio do
papel pelos motivos acima expostos. E tenho dito.
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