Viajar
é preciso, é o que dizem, o meio é que são elas. Dar a volta ao mundo sem sair
de casa ou sair de casa sem chegar a lugar algum, cada um escolhe o tamanho de
universo que lhe convém. A mim, de preferência, ambas as modalidades. Viajar by
plane ou by book me arrepia igual, é só questão de possibilidade, de hora.
Voltei recentemente de São Paulo, onde curti a Balada Literária por cinco dias
inteirinhos, com programação às 11, 14, 16, 18 e 20h, mais as noites no Salim,
no Platibanda, no Pinheirinho, em botecos onde a cerveja não era das mais
geladas mas a companhia não podia ser mais prazerosa. Dias a fio vendo e
ouvindo de João Ubaldo Ribeiro a Lirinha, de Vicente Franz Cecim a Macca, de
Leyla Perrone-Moisés a Miró, pra dar uma idéia da diversidade cultural em que
me meti, faceira que só vendo.
Com a FestiPoa Literária pretendemos alcançar
isso também, mas o extremo geográfico atrapalha o econômico e torna difícil
promover a invasão nordestina de que tanto precisamos. Só no meu hotel havia
pencas de pernambucanos, piauienses, paraenses, paraibanos, a PQP da
inteligência dando sopa já no café da manhã, um luxo que usufruí sem falhar
dia. Como sou do tipo que sai chiando depois de falar cinco minutos com um
carioca (ai, como te entendo Elis!), só não voltei pra Porto Alegre com sotaque
nordestino porque me atrapalhei na mistura, de modo que o tchê permaneceu
razoavelmente intacto, coisa que não posso dizer de meu espírito (aquele que
mora na cabeça, não o que assombra), esse sim capturado pela riqueza do sertão
e da caatinga, de onde até maracatu aprendi a ouvir.
A pilha de livros na mala
quase pagou excesso, mas como deixar de lado Wellington Soares, Nivaldo
Tenório, Vicente Cecim, Maria Valéria Rezende, Nina Ferraz, Demétrius Galvão,
Beatriz Grimaldi, Thiago E, Marcelo Barbão, Sylvia Mello, Tiago Savio, Sidney
Rocha? Essa foi minha sacolinha mínima, que o rol de lançamentos da Balada era
bem superior, pero hay que se fazer escolhas, hay.
O certo é que neste
continente brasileiro vários universos coabitam e nós, sulistas, estamos demasiado
longe da maioria deles, por isso com tanta freqüência nosso umbigo inflama e
nos faz pensar que somos o máximo do
apogeu da glória em matéria de tudo. Confesso ter ficado com inveja quando
Garanhuns entendia plenamente o que Teresina estava dizendo, que um esteio
comum se impunha. Nosso senso comum é pampeano, se espraia pra fora, e não pra
dentro do Brasil, o que nos dá uma desvantagem enorme na portuguesia em geral.
Porém,
como distâncias cada vez mais se tornam irrelevantes com essa tal de internet,
é só questão de voltar os olhos e os sentidos em outra direção que esse buraco
acaba rapidinho. Porque é urgente, urgentíssimo, que os gaúchos ouçam a voz de
Jomard Muniz de Britto e Wilson Freire, prestem atenção ao coro das Clarianas,
dancem ao som do baião, mergulhem no universo de Andara.
Como repetia o bruxo
do Oficina, José Celso Martinez Correa, num mantra que fez o maior sucesso
entre os teatreiros gaudérios: é de dentro pra fora! É de fora pra dentro! é de
dentro pra fora! É de fora pra dentro! Bora desinflar o umbigo, bora!
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