segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

VIAJAR EU PRECISO


Viajar é preciso, é o que dizem, o meio é que são elas. Dar a volta ao mundo sem sair de casa ou sair de casa sem chegar a lugar algum, cada um escolhe o tamanho de universo que lhe convém. A mim, de preferência, ambas as modalidades. Viajar by plane ou by book me arrepia igual, é só questão de possibilidade, de hora. 
Voltei recentemente de São Paulo, onde curti a Balada Literária por cinco dias inteirinhos, com programação às 11, 14, 16, 18 e 20h, mais as noites no Salim, no Platibanda, no Pinheirinho, em botecos onde a cerveja não era das mais geladas mas a companhia não podia ser mais prazerosa. Dias a fio vendo e ouvindo de João Ubaldo Ribeiro a Lirinha, de Vicente Franz Cecim a Macca, de Leyla Perrone-Moisés a Miró, pra dar uma idéia da diversidade cultural em que me meti, faceira que só vendo. 
Com a FestiPoa Literária pretendemos alcançar isso também, mas o extremo geográfico atrapalha o econômico e torna difícil promover a invasão nordestina de que tanto precisamos. Só no meu hotel havia pencas de pernambucanos, piauienses, paraenses, paraibanos, a PQP da inteligência dando sopa já no café da manhã, um luxo que usufruí sem falhar dia. Como sou do tipo que sai chiando depois de falar cinco minutos com um carioca (ai, como te entendo Elis!), só não voltei pra Porto Alegre com sotaque nordestino porque me atrapalhei na mistura, de modo que o tchê permaneceu razoavelmente intacto, coisa que não posso dizer de meu espírito (aquele que mora na cabeça, não o que assombra), esse sim capturado pela riqueza do sertão e da caatinga, de onde até maracatu aprendi a ouvir. 
A pilha de livros na mala quase pagou excesso, mas como deixar de lado Wellington Soares, Nivaldo Tenório, Vicente Cecim, Maria Valéria Rezende, Nina Ferraz, Demétrius Galvão, Beatriz Grimaldi, Thiago E, Marcelo Barbão, Sylvia Mello, Tiago Savio, Sidney Rocha? Essa foi minha sacolinha mínima, que o rol de lançamentos da Balada era bem superior, pero hay que se fazer escolhas, hay. 
O certo é que neste continente brasileiro vários universos coabitam e nós, sulistas, estamos demasiado longe da maioria deles, por isso com tanta freqüência nosso umbigo inflama e nos faz pensar que somos  o máximo do apogeu da glória em matéria de tudo. Confesso ter ficado com inveja quando Garanhuns entendia plenamente o que Teresina estava dizendo, que um esteio comum se impunha. Nosso senso comum é pampeano, se espraia pra fora, e não pra dentro do Brasil, o que nos dá uma desvantagem enorme na portuguesia em geral. 
Porém, como distâncias cada vez mais se tornam irrelevantes com essa tal de internet, é só questão de voltar os olhos e os sentidos em outra direção que esse buraco acaba rapidinho. Porque é urgente, urgentíssimo, que os gaúchos ouçam a voz de Jomard Muniz de Britto e Wilson Freire, prestem atenção ao coro das Clarianas, dancem ao som do baião, mergulhem no universo de Andara. 
Como repetia o bruxo do Oficina, José Celso Martinez Correa, num mantra que fez o maior sucesso entre os teatreiros gaudérios: é de dentro pra fora! É de fora pra dentro! é de dentro pra fora! É de fora pra dentro! Bora desinflar o umbigo, bora!

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