quinta-feira, 15 de novembro de 2012

MEU CORAÇÃO HARDCORE



Meu coração amanheceu hardcore e eu não to a fim de quem se faz de poeta, mas não passa de um pateta pendurado num poste pra puta Gaga ver melhor.
Meu coração amanheceu hardcore e eu não to a fim de agüentar verso de florzinha, nem cara fazendo um sonzinho com seu violãozinho que sequer conhece João.
Meu coração hardcore dormiu pedra e acordou leão, afônico e careca de tanto rugir à toa.
Meu coração hardcore está sem paciência para louvar os esforçados executores das letras pátrias e apátridas também.
Meu coração está saco zero, ou perto disso.
Meu coração amanheceu sem vontade de se doar, cooperar, salvar o gatinho ou a vovozinha, dar tchauzinho.
Meu coração amanheceu hardcore. Cheio de nãos: não acredita em budismo de PowerPoint, em cachorro de três pernas, metrossexual em geral, vampiro vegan, margarina sem gordura trans, virgindade aérea, sabedoria de Facebook. Não.
Meu coração hardcore não está para santidades. Nem papas nem mães contarão com sua clemência hoje. 
Haja o que houver, meu coração amanheceu hardcore. Faz questão de escolher seus ódios a dedo, sem medo de errar. Também erra seus amores a dedo, certeza absoluta. A desarmonia é o seu arado.
Meu coração hardcore acha que foder é bom, mas não recomenda. No sex, no, no, no. Sofre de complexos. Não vitamínicos. Curte migalhas: olhar de viés, cabeça no ombro, sugestão de filme, bala azedinha direto na boquinha. Tudo em vão, meu coração é sabidamente incompetente. It´s hard, so hard.
 Como lidar com um músculo que teima em não se fazer notar quando já botou tudo a perder. Tudo? Não, mentira. Verdade verdadeira é essa que vos digo amores perdidos: nunca tive peito pra botar na roda o que, aos outros, parece sobrar.
Meu coração não acredita nesses outros. Meu coração hardcore não. Para ele, verbo que é verbo não se conjuga se joga. Doido. Continua mentindo, vai, continua!
Meu coração retardado: hardcore em tempo de rap. O rap não morre nunca, abaixo o rap! Quem fala pra não cantar merece se danar, mas não conta pra ninguém, tá?
Meu coração hardcore detesta se incomodar, o idiota.  
Meu coração hardcore tem raiva de tudo suportar. Gosta mesmo é de viajar na veia. Sem pico, só no fluxo. Ouvindo Stones a rolar, rolar, rolar.
Meu coração hardcore vive de ar, com quase nada pra cuspir e pra beijar, seco e brabo.
Meu coração hardcore não sabe fazer poesia, nem extrair alegria da paixão. Então qual a razão? pergunta o esteta. Ora, posar de poeta, seu bobo.
 Meu coração hardcore. 

PUTZ! HOJE É DIA DE SLASH


PUTZ! Isso aqui é PUTZGRILA, rádio de rock, às vezes tenho que me puxar pra lembrar, não porque o rock esteja longe de mim, o rock parece é estar longe do mundo, com tanto sertanejo e pagode e sei lá o que se toca nessas rádios que eu não ouço mais. Mas hoje é sexta-feira, 9 de novembro, dia de SLASH em Porto Alegre, então fica difícil encontrar uma parceria que combine com o cara. Que poeta pinta e borda na palavra como Slash na guitarra? Torquato Neto?

O Poeta é a mãe das armas 
& das Artes em geral —
alô, poetas: poesia 
no país do carnaval;
Alô, malucos: poesia
não tem nada a ver com os versos 
dessa estação muito fria.

O Poeta é a mãe das Artes 
& das armas em geral: 
quem não inventa as maneiras 
do corte no carnaval 
(alô, malucos), é traidor 
da poesia: não vale nada, lodal.
A poesia é o pai da ar-
timanha de sempre: quent 
ura no forno quente 
do lado de cá, no lar 
das coisas malditíssimas; 
alô poetas: poesia! 
poesia poesia poesia poesia!
O poeta não se cuida ao ponto
de não se cuidar: quem for cortar meu cabelo 
já sabe: não está cortando nada 
além da MINHA bandeira ////////// =
sem aura nem baúra, sem nada mais pra contar.
Isso: ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. a
r: em primeiríssimo, o lugar.
poetemos pois
Os bons são poucos, mas estão por aí, como a poesia, que mesmo quando rala está aí pra quem quiser ver e pra quem não quiser ver também, porque não temos culpa de sermos tão terrivelmente humanos que nenhuma beleza nos escapa mesmo quando o ar fede lá fora, e o corpo grita de saudade e fome, humanos, demasiadamente humanos, falaciosamente humanos, a poesia é sempre a soma de todas as coisas, então shut up e toca a ouvir o que os grandes dizem. Assim, ó:
Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Isso, pra mim, é definição de ser poeta, não o que escreve nem o que sente, o que vive e esse, meu amigo, é todinho teu. Basta querer. Ou quereres. Caetano sabe.
Então hoje é sexta-feira, dia de Slash, mas amanhã tem mais, tem sacanagem, da boa, dita e feita por Reinaldo Moraes, que vai estar, ao vivo, na rádio Elétrica, lendo um trecho da sua PORNOPOPÉIA, que fica até chato de eu explicar o que é porque um título desses é autoexplicativo, só sei que comecei a ler as 474 páginas nesta semana e ainda não enjoei de tanta porra-pó-punheta, porque o Reinaldo escreve bem, porque é divertido e porque, sei lá, alguma coisa há de surgir no fim do túnel, I suppose. Resumindo: a Kátia Suman chamou uma galera enorme de gente da terrinha (exceção do autor, que não é daqui mas vai agir como se fosse) pra ler a obra inteirinha, das 10h de sábado às 10h de domingo, e seja o que Baco quiser. To nessa também, espero que vocês gostem.
Agora chega, sexta-feira não é só pra deleitar falação não, é pros chopes, namoros, risos, música, alegria, poxa! À farra, ouvintes!, À farra!

DA FEIRA AO BAIÃO


Verão é rua, definitivamente. Só mesmo o calor pra botar feira no lugar de cinema, livro no lugar de teclado. Mais aquelas bolachas todas se amontoando enquanto seu chope não vem. Normal, algo tem que compensar a canícula que sói ser inclemente por aqui e em Moscou (aquecimento global é chapéu que cabe em todos, sorry). Fiquemos nas delícias, porém, para não antecipar notícias que podem, ou não, ser fatais ao planeta segundo os incas ou maias, não sei qual deles tinha o calendário mais certinho, só sei que com eles a coisa não funcionou, tanto que estão extintos há um tempão enquanto nós seguimos aqui, não muito belos nem muito faceiros, porém ajudando a extinguir quem mais precise de uma mãozinha nesse sentido, êba!
Coisas boas então: Marcelino Freire ensinando o povo a soltar a língua numa oficina pra lá de boa na CCMQ, dois dias de conversa com o sujeito e se aprende a lidar com a palavra como gente grande, esse pernambucano é arretado demais! Outra pernambucana linda e talentosa aportou por aqui e dá os ares de sua poesia de um jeito que deixa todo mundo enamorado: Luna Vitrolina, que deu baile na Palavraria em noite de contos de Noll e Ivo Bender (coisa mais boa, gente!) e outro tanto na CCMQ ao meio-dia, pro povo do almoço se nutrir de outras coisas além de churrasco e sagu. Não bastasse isso, outros tantos a encontrar na Feira do Livro, debatendo, autografando, passeando, essas coisas que escritor se mete a fazer quando tá de bobeira. Bom pra atualizar a agenda que nem te conto. Até o pôr do sol mais lindo do mundo peguei de lambuja.  Na seqüência de tanto povo e literatura, nada como uma boa frescura, então toca pro shopping ver se o 007 continua com aquele corpinho que abalou Paris, promessa cumprida, thanks god!, o cara se puxa, salta, atira, esconde, bate, fode, bebe e corre que dá gosto; podia ter mais sexo e martini, mas parece que não é mais politicamente correto o Bond, James Bond, comer todas e sair matando, então fazer o que, a gente tem que obedecer os tempos modernos, não tem? O mulherio que aprecia homem pelado, porém, não precisa lamentar, que nas telas da cidade ainda tem outra chance: Magic Mike, com o Matthew McConaughey e o Channing Tatum interpretando strippers, sabe o que é isso? E depois dizem que o Papai Noel não existe!
Bom, mas pra não parecer que sou uma tarada full time, vou chegar ao X do cinema nacional: Gonzaga – de pai pra filho. Belíssimo filme! A história do difícil relacionamento entre Gonzaga pai e Gonzaga filho é muito bem contada por um elenco excelente, com destaque pro Julio Andrade, que assombra no papel de Gonzaguinha, parece encarnação, cruzes! O filme me prendeu e emocionou do princípio ao fim, ainda mais com as músicas de ambos perpassando tudo, um prazer enorme voltar a ouvi-los, arrepiei todinha. A turma dos cinéfilos talvez não aprecie muito porque a história tem princípio-meio-fim, é totalmente compreensível e, pior, emociona mesmo, além de não apresentar cortes fotográficos inusitados, mas o Breno Silveira está desenvolvendo uma cinematografia de qualidade e fora daquele binômio cidade-favela-bandidagem que já me encheu o saco.  Recomendo vivamente. Coisa boa é pra já.