A
melhor coisa do mundo, dizem os apaixonados, é a reconciliação. Eu também gosto
de usufruir esse momento, em que os conflitos deságuam num entendimento que dá
gosto e tudo vira paixão. Nesta semana, por exemplo, minha briga com Porto
Alegre conheceu o outro lado da moeda, o do amor, do júbilo por tudo que esta
cidade me propiciou. Também, o que queriam? Teve Porto Alegre em Cena, FestiPoa
revisitada, lançamento de Solidão Continental do João Gilberto Noll e do livro de
haikais do Diego Petrarca, Cabaré do
Verbo bombando cada vez mais, convites pra dar entrevista, escrever, recitar,
conversar, gente querida chegando, tragos e mais tragos a pretexto, em suma,
movimento pra todos os lados, o que dizem ser muito bom pra saúde, ainda que
nem sempre a gente jogue no mesmo time. Anyway, pra contrabalançar essa
animação toda, tem a mansidão boa repousando ao lado da cama, nos livros com
quem compartilho a intimidade das madrugadas, benditas madrugadas. A saber: 1) “O
espírito da prosa” do Cristóvão Tezza é uma lição de inteligência e elegância
numa área que não costuma dar muito chá, a dos ensaios, mas como ele é bom em
tudo que faz, dá pra ler até quando o sono pisca no cerebelo, esse cara é
grande e tem que ser lido, no question;
2) na mesma seara, mas indo mais pros lados da imaginação, “A louca da casa”,
da Rosa Moreno, que comecei e larguei há tanto tempo que perdi o fio da moeda,
mas o bom do livro é que ele fica ali, paradinho, até eu dar outra espiada nele
– teu dia chegará, Rosa, me aguarde; 3) o autor premiado da semana, vencedor
póstumo do Prêmio São Paulo de Literatura, Bartolomeu Campos de Queirós, com
seu primeiro livro adulto, creio, “Vermelho Amargo”, numa edição primorosa da
Cosac Naify, só 69 pagininhas além de tudo, mas em cuja leitura já patinei duas
vezes, simplesmente vagando e vagueando em meio a tanto tomate até que empaquei
de vez, então volta pra pilha, tadinho; 4) para garantir o brilho do escrete,
tem “Passeios na ilha” com Drummond, delícia, delícia, tiro mais certeiro não
há, o mestre faz gol sempre, vai ser gauche na vida lá em casa, uai; 5) e, pra
não dizer que não falei de sangue, “O instinto de morte”, do Jed Rubenfeld, para
os dias de chuva em que preciso ler
romances policiais pra não me transformar numa serial killer, não me perguntem a
razão, faz favor. Então a pilha da semana é essa, mas a pilha B já está se
alinhando, com dois livros de contos de autores que estiveram na FestiPoa desta
semana dando um banho de literatura e sensibilidade, “Antes que os espelhos se
tornem opacos” de Juarez Guedes Cruz, e “Em que coincidentemente se reincide”,
da Leila Teixeira, tipo de livro que não apenas promete, cumpre tudinho, para
minha grande alegria (e da Palavraria, onde estes tesouros te aguardam). E agora
me digam, sobra tempo pra escrever no meio disso tudo? Que a resposta seja sim,
sempre sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, SIM.
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