Dizem que Érico Veríssimo, quando
indagado sobre a cidade em que vivia, respondia com orgulho: sou de uma cidade
que tem uma orquestra sinfônica. Já eu,
Clarice Müller, nascida e criada nessa mesma cidade, respondo, com vergonha:
sou de uma cidade que acolhe com festa um shopping, mas rejeita que sua
sinfônica ali se instale; sou de uma cidade que por décadas aguarda a finalização
de um teatro dedicado à sua maior cantora; sou de uma cidade que acabou, sem
pestanejar, com o carnaval de rua, e jogou o que resta para os confins mais
inabitados; sou de uma cidade que canta as façanhas do passado, mas desdenha a
arte do presente; sou de uma cidade que impõe toque de recolher a seus
habitantes. Sim, agora diversão e arte cumprem expediente de escritório. Agora
a ordem é cineminha e cama, comida em casa, que na saída tá tudo fechado. Como
a cabeça de quem nos governa. Fechar bares,
isolar torcidas, logo, logo, cercar parques, isso lá é jeito de se administrar
uma cidade??? Porém, como sociedade se
faz fazendo, se os comerciantes, empregados, clientes, artistas, tutti la gente
se juntarem, dá pra dar um basta nessa idiotice. Impor respeito, sabe como é?
Não aceitar a muquiranagem como destino histórico, o sono como ideal de vida, o
tédio como meio, a mediocridade como fim. Cidade-dormitório? Vão se catar! É
preciso pensar e agir grande, transformar Porto Alegre num pólo irradiador de
cultura, com o diferencial que um Village, uma Lapa trazem em prol da
felicidade geral da nação, na falta de neve e chocolate amargo, claro. Não dá é pra dormir no ponto. Achar que, com o
tempo, tudo se ajeita, se resolve. Ahã. Foi com toque de recolher que acabaram
com o Bomfim, que só agora, mais de duas décadas passadas, lentamente ressurge.
Quer ver esse filme de novo? É só cruzar os braços. Falando claro: estou
incomodada, mas não vou me mudar, eu
proponho é mudar. Junto contigo.
Topa? Então compartilhemos, pois.
PS: NAO SOU CANDIDATA A NADA.
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