sábado, 3 de maio de 2008

BISONTICES

Ele arde como se um bisão estivesse à espreita na estepe gelada. Mas nem bisões nem estepes fazem parte de meu universo, restrito ao asfalto da cidade e ao conforto de minha sala onde o fogo, simplesmente, arde. O primitivo habita apenas os arquétipos cujo significado busco em livro e entrego ao psicanalista para servir-lhe de consolo ante a resistência pétrea do que chamamos psiquê e os antigos de alma. Mesmo assim, à medida que a noite e o frio avançam, uma nostalgia de caverna toma conta de mim. De quando os sentidos eram plenos e a razão quase nula. Envolta em peles, carne, sangue, e carvão para desenhar. Caninos fortes, narinas salientes, nervos reflexos, mãos que agarram, cavam, miram, matam, saciam. Elementar assim.