O segredo foi passando de mão em mão, bem dobrado e amarrotado como convém aos segredos. Dei uma lida rápida e o enfiei no fundo da bolsa, onde apodreceria entre restos de engov, tocos de batom e canetas estéreis, não fosse o mestre ditar o jogo: deveria ser apropriado, alterado e exposto perante todos, sob os auspícios do bem fazer literário, cada um com o seu alheio. Coube a mim nesse gerúndio: “traí, traí não movida pelas circunstâncias mas pela vontade, traí com gosto, traí porque quis”.
Dá-lhe guria! Bota chifre e não se arrepende! Pena que teve que socá-lo pra dentro da mentira antes que ele lhe explodisse na cara. Daí o segredo, que só conheceu a luz graças ao anonimato de uma sacola cheia deles, distribuídos aleatoriamente, com grande chance de terem todos o mesmo tema: traição. Eu sou teu, você é minha e ninguém mete a mão até ordem o contrário. Ahã.
Não sei quem teve a infeliz idéia de botar cabresto no sexo, mas desde então pagamos todos os pecados para tentar provar que civilizadinhos somos. Ora, nada mais selvagem do que pactuar que não somos animais. Sexo é foda. Simples assim. Precisa dizer mais?
Para a maioria dos amantes e dos governos, precisa.
O ex-governador de NY, por exemplo. Tem que ser muito puritano ou burro pra olhar o sujeito e não se dar conta do que é feito, o cheiro deve ser perceptível a quilômetros. No entanto, construiu sua carreira perseguindo aquilo que de fato o perseguia: ver a coisa pegar fogo. Por azar, ardeu no seu. Teve que levar a mulher, com a maior cara de chucrute do mundo, pra pedir perdão em rede nacional por ser o hipócrita que poucos duvidavam que fosse. Para apimentar o prato cheio da reviravolta política, uma pitada de puta pátria – era brasileira a queridinha do chefe. O paraíso do turismo sexual infantil agradeceu a referência recebendo a moça com honras de galisteu, galardão atribuído apenas a quem dá pra rock star, mesmo assim só depois de confirmada a prole ou o programa de TV. Coisa fina mesmo.
Com tanto alvoroço, só restou ao rei da maçã renunciar e recolher-se ao lar, doce lar, na companhia da esposa que a essa altura deve estar reinventando mais e melhores usos para a palavra ‘inferno’. Fustigado pelo exemplo do antecessor, o que faz o novo governador ao tomar posse? Também na companhia da sua ilustríssima confessa, em coro com ela: sou pecador! sou traído e traidor! mea culpa, mea maxima culpa!
Good for you, panaca. Todo mundo sabe que sexo & poder são um binômio imbatível na história da humanidade, os troianos que o digam, mas submeter o interesse público ao pêndulo de um pênis é reduzir a política a um reality show vagabundo, coisa que nem mesmo ianque merece, a despeito de ser sua a estratégia de botar na conta do Freud o que seria da conta do Marx.
Se sob os holofotes o papo é esse, entre os amantes não poderia ser diferente. Seja no público, seja no privado, sexo é, sim, pau pra toda obra. Instrumento de dominação e libertação, é por ele que nos definimos e matamos, como gente e como tribo. Assim, os cornos que me perdoem, mas trair é fundamental.
Dá-lhe guria! Bota chifre e não se arrepende! Pena que teve que socá-lo pra dentro da mentira antes que ele lhe explodisse na cara. Daí o segredo, que só conheceu a luz graças ao anonimato de uma sacola cheia deles, distribuídos aleatoriamente, com grande chance de terem todos o mesmo tema: traição. Eu sou teu, você é minha e ninguém mete a mão até ordem o contrário. Ahã.
Não sei quem teve a infeliz idéia de botar cabresto no sexo, mas desde então pagamos todos os pecados para tentar provar que civilizadinhos somos. Ora, nada mais selvagem do que pactuar que não somos animais. Sexo é foda. Simples assim. Precisa dizer mais?
Para a maioria dos amantes e dos governos, precisa.
O ex-governador de NY, por exemplo. Tem que ser muito puritano ou burro pra olhar o sujeito e não se dar conta do que é feito, o cheiro deve ser perceptível a quilômetros. No entanto, construiu sua carreira perseguindo aquilo que de fato o perseguia: ver a coisa pegar fogo. Por azar, ardeu no seu. Teve que levar a mulher, com a maior cara de chucrute do mundo, pra pedir perdão em rede nacional por ser o hipócrita que poucos duvidavam que fosse. Para apimentar o prato cheio da reviravolta política, uma pitada de puta pátria – era brasileira a queridinha do chefe. O paraíso do turismo sexual infantil agradeceu a referência recebendo a moça com honras de galisteu, galardão atribuído apenas a quem dá pra rock star, mesmo assim só depois de confirmada a prole ou o programa de TV. Coisa fina mesmo.
Com tanto alvoroço, só restou ao rei da maçã renunciar e recolher-se ao lar, doce lar, na companhia da esposa que a essa altura deve estar reinventando mais e melhores usos para a palavra ‘inferno’. Fustigado pelo exemplo do antecessor, o que faz o novo governador ao tomar posse? Também na companhia da sua ilustríssima confessa, em coro com ela: sou pecador! sou traído e traidor! mea culpa, mea maxima culpa!
Good for you, panaca. Todo mundo sabe que sexo & poder são um binômio imbatível na história da humanidade, os troianos que o digam, mas submeter o interesse público ao pêndulo de um pênis é reduzir a política a um reality show vagabundo, coisa que nem mesmo ianque merece, a despeito de ser sua a estratégia de botar na conta do Freud o que seria da conta do Marx.
Se sob os holofotes o papo é esse, entre os amantes não poderia ser diferente. Seja no público, seja no privado, sexo é, sim, pau pra toda obra. Instrumento de dominação e libertação, é por ele que nos definimos e matamos, como gente e como tribo. Assim, os cornos que me perdoem, mas trair é fundamental.
Ainda bem que Madame Bovary não sou eu.
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