quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

CLARICE

Tenho que fazer as pazes com minha xará. No mínimo porque Clarice Lispector é considerada a maior escritora brasileira, pra quem todo mundo bate cabeça. Menos eu e uma meia dúzia de renitentes, por razões que nem sei explicar. Vem da infância, acho (e por infância me refiro àquele período da vida em que a família, de um modo ou de outro, ainda dá as cartas), das matérias que lia sobre ela na revista Cruzeiro, um rosto nada simpático, um jeito de falar carregado nos erres que acentuava ainda mais a arrogância que eu lhe atribuía, embora digam que ela não era assim, mas quem sabe como somos? Essas impressões primeiras, por burras que sejam, às vezes nos acompanham a vida inteira e está na hora de mudar esse panorama. De algumas não pretendo abrir mão, Nelson Rodrigues, por exemplo, a quem repudio com gosto até hoje porque acho que era um canalha e ponto final. Não é o caso da Lispector, de quem li muito pouco para formar um julgamento consistente e que não resistiu a poucas páginas da barata, bicho que me desgosta até literariamente, só Kafka pra sobreviver a meu asco. Mas um caro amigo disse que estou pronta pra Clarice. Marcelino Freire, que me presenteou com um exemplar autografado por ela, veja só, também. Então creio estar na hora de fazer as pazes com essa senhora. Bônus extra é que Clarice desperte Clarice, adormecida das letras há tempo demais pra quem é chegada numa palavrinha. Outro bônus: conhecer um autor com muitos livros publicados e que nos diz coisas relevantes é presente dos deuses. No momento, minha cabeceira está vazia deles. Mas a fila anda e Clarice se aproxima. Qual delas?

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