Tenho que
fazer as pazes com minha xará. No mínimo porque Clarice Lispector é considerada a maior
escritora brasileira, pra quem todo mundo bate cabeça. Menos eu e uma meia
dúzia de renitentes, por razões que nem sei explicar. Vem da infância, acho (e
por infância me refiro àquele período da vida em que a família, de um modo ou
de outro, ainda dá as cartas), das matérias que lia sobre ela na revista
Cruzeiro, um rosto nada simpático, um jeito de falar carregado nos erres que
acentuava ainda mais a arrogância que eu lhe atribuía, embora digam que ela não
era assim, mas quem sabe como somos? Essas impressões primeiras, por
burras que sejam, às vezes nos acompanham a vida inteira e está na hora de
mudar esse panorama. De algumas não pretendo abrir mão, Nelson Rodrigues, por
exemplo, a quem repudio com gosto até hoje porque acho que era um canalha e
ponto final. Não é o caso da Lispector, de quem li muito pouco para formar um
julgamento consistente e que não resistiu a poucas páginas da barata, bicho que
me desgosta até literariamente, só Kafka pra sobreviver a meu asco. Mas um caro
amigo disse que estou pronta pra Clarice. Marcelino Freire, que me presenteou
com um exemplar autografado por ela, veja só, também. Então creio estar na hora de
fazer as pazes com essa senhora. Bônus extra é que Clarice desperte Clarice, adormecida das letras há tempo demais pra quem é chegada numa palavrinha. Outro bônus: conhecer um autor com muitos livros
publicados e que nos diz coisas relevantes é presente dos deuses. No momento, minha cabeceira está
vazia deles. Mas a fila anda e Clarice se aproxima. Qual delas?
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