domingo, 5 de janeiro de 2014

POBRE PORÉM LIMPINHO?

Rodoviária de Capão da Canoa, manhã de verão – um pouco antes do inicio da viagem faz-se necessária uma passadinha no banheiro feminino, surpreendentemente limpo e arejado, com ares de recente reforma. No cubículo, a surpresa ruim: cadê o papel higiênico? A mulher da limpeza esclarece: papel e sabonete tem que pedir no Setor de Despacho. Não resisto ao deboche: então me passa o formulário. Não precisa de formulário, ela explica, é só ir na janelinha que fica lá no fim do prédio e pedir o material no setor.  Minha cara de maus bofes faz com que se apresse: se não gostou, reclama pro DAER, eles é que vieram com essa. Ah tá. A segunda alternativa é usar o banheiro do ônibus, que fica chaveado em viagens inferiores a 3 horas, como ouviu do motorista a passageira que dele quis fazer uso durante a viagem. A terceira alternativa, usar o da rodoviária da Capital dos Gaúchos (quanto orgulho, oh!), demanda o pagamento de R$ 2,25 para se usufruir de material de limpeza de última categoria, sob supervisão da mulher que controla a roleta para que não haja abuso, sabe como é, quem não gostaria de roubar uma lixa como aquela?Enfim, até no mais íntimo de nossas necessidades há um burocrata ou administrador de olho no nosso rabo, achando que está fazendo uma grande economia surrupiando ou suprimindo material essencial à higiene (uma irmã minha defende a tese de que todo homem tem um genoma de porco – até agora não encontrei desmentidos). Esse tipo de ordem burra, que prevalece nos banheiros do país de ponta a ponta, presta um desserviço tremendo à saúde pública, como tanto alertou Osvaldo Cruz, que pra esses ignaros deve ser zagueiro do Mengo, algo assim. Então dou uma sugestão pra turma da imprensa que pode estar me lendo: que tal botar o dedo nessa cumbuca e ver quem fatura com essa porcaria toda? A quem serve? Entrevista os usuários e bota médico na parada pra dizer o óbvio: as piores pestes vêm dos menores bichinhos, esses que proliferam justamente porque não se lava as mãos, por exemplo. O efeito colateral de uma investigação assim seria tão benéfico quanto: por algum tempo a bobajada das matérias jornalísticas de verão teria alguma utilidade afora o uso obvio do papel pelos motivos acima expostos. E tenho dito.