Se tem uma coisa que sempre esqueço é o nome das crateras da lua. Dizem que tem um ponto que nunca é completamente escuro nem claro, uma espécie de limbo lunar onde os finlandeses, que tem um verão ridículo de tão pequeno, provavelmente adorariam morar, ainda mais com a Terra posando de lua pra eles.
Eu também gostaria de dar uma chegadinha lá. Não pela luz (a de Porto Alegre no outono dá de dez a zero), nem pela companhia (gelado por gelado prefiro picolé) mas pelo silêncio, supondo-se, claro, que os finlandeses não levem seus nokia pra lá, eles são muito apegados a seus inventos. Me imagino com os pés balançando a beira do Mar da Serenidade – nome bonito demais pra uma cratera, mas os cientistas são uns românticos, mesmo quando acertam no nome e erram na substância (cadê o H2O?) – na maior paz, esperando que um monolito apareça e me dê resposta pra tudo ou, na falta de deus, um astronauta disposto a tudo.
A vista do nosso planeta cintilando de azul no horizonte também deve ser de encher os olhos, uma razão a mais para arranjar um namorado de arrancada. Tímido, de preferência, pra poder curtir a quietude sem chiado.
Tirei uma palhinha do que seria isso quando estive na Patagônia. Horas e horas de viagem por entre pó, pedra, vento e ovelhas, até chegarmos a um bosque petrificado onde nada se via ou mexia. Chamar de ‘bosque’ uns troncos pedregosos espalhados por terra a perder de vista é um primor de exagero, mas os hermanos fazem bem em preservá-lo – em algum lugar do mundo temos que nos dar conta de nossa insignificância.
Tirei uma palhinha do que seria isso quando estive na Patagônia. Horas e horas de viagem por entre pó, pedra, vento e ovelhas, até chegarmos a um bosque petrificado onde nada se via ou mexia. Chamar de ‘bosque’ uns troncos pedregosos espalhados por terra a perder de vista é um primor de exagero, mas os hermanos fazem bem em preservá-lo – em algum lugar do mundo temos que nos dar conta de nossa insignificância.
Afastei-me do grupo e fiquei lagarteando sobre uma rocha, apreciando o raro momento de calor depois de suas semanas em meio às geleiras do extremo sul. Comecei a sentir um zumbido nos ouvidos. Pensei em insetos, mas uma boa olhada em volta mostrou-me onde me encontrava: em meio ao nada na enésima potência, algo assim. Nem um mosquitinho pra chamar de meu.
Percebi então que o zumbido não era sinal de presença, mas de absoluta ausência de qualquer som. Acostumados a buzinas, gritos, estampidos, sirenes e funk por todos os lados, os tímpanos vibravam é de abstinência. Uma variante do ‘delirium siemens’, creio eu, que tanto aflige os brotinhos de celular, porém com seqüelas mais positivas – aprendi a amar espaços vazios.
A Terra é tagarela. Não pára quieta um instante. Zumzumzum, lerolero, disque-disque, rrrrrum-rrrrrum, baticum, sons que se multiplicam em velocidade geométrica inversa à de seu conteúdo e apenas duas orelhas pra todo serviço.
A Terra é tagarela. Não pára quieta um instante. Zumzumzum, lerolero, disque-disque, rrrrrum-rrrrrum, baticum, sons que se multiplicam em velocidade geométrica inversa à de seu conteúdo e apenas duas orelhas pra todo serviço.
Se a intenção por trás dessa zoeira toda é avisar pra via-láctea que, ssssim, estamos aqui, dou a maior força, mas se for só pra atordoar chapeuzinho enquanto seu lobo não vem, então, bródi, tá mais do que na hora de calar o bico e aprender a ouvir. Em algum lugar do espaço asas farfalham sobre nós.
Vaca amarela!
Vaca amarela!