Eu queria ser escritora. Às vezes ainda quero, por razões insondáveis ou por absoluta falta do que fazer, a depender do dia. Ou do jornal que se lê e que bota seu senso de imaginação no pé. A saber:
Informa a página 25 de Zero Hora que um homem de 50 anos, aliado próximo do primeiro-ministro britânico David Cameron, foi encontrado morto num banheiro químico do festival de Glastonbury. Causa provável da morte: suicídio. Suicídio num banheiro químico. De um festival de música. O chefe da Associação Conservadora de Oxfordshire Oeste se matou num banheiro químico de um festival de música!
Posso imaginar alguém morrendo num banheiro químico: é só abrir um pouco demais as narinas que todas as Escherichia coli invadem seu corpo e o transmutam na pocilga onde seus pés estão fincados, ou levar tiros por se recusar a compartilhar o papel higiênico mocosado na bolsa justo para essa insalubre ocasião, ou enfartar por ser o único local onde não dá pra ouvir as dezesseis duplas sertanejas que se apresentam há seis horas na sua fuça. Algo por aí.
O que não dá pra imaginar é como alguém escolhe um local desses pra dar cabo da vida. As pontes estavam todas ocupadas? Faltou trave pra pendurar corda? Cortaram o gás? O último amolador de facas se aposentou? Pílulas e seringas estão em falta?
Tá certo que se o sujeito chega a esse ponto é porque sua vida está valendo menos que seguro-desemprego na Grécia, mas daí a dar os últimos estertores em meio a um repositório excrementício (me puxei nessa!) é, no mínimo, reconhecer que toda sua existência não era flor que se cheire. Optar pela merda como última imagem na retina é o cúmulo da sordidez ou da indiferença, façam suas apostas.
Qual teria sido a motivação? Deixar claro que o governo fede? Protestar contra o mau estado das instalações sanitárias para fins de extermínio? Entrar no Guiness como campeão da categoria mórbido fétido? Enlouquecer a lavadeira?
Sejam quais tenham sido seus motivos, a Associação Conservadora de Oxfordshire Oeste não será mais a mesma depois que seu supremo líder chafurdou onde não devia e, ciosa de sua olorosa participação na coalisão governamental, imagino que deva patrocinar um estudo sobre os efeitos do uso continuado da cerveja e da gaita de foles no clima inglês. Os irlandeses devem levar a culpa.
Diz o jornal que David Cameron está devastado.
Que merda.